Fake news, teorias da conspiração, negacionismo, pseudociência… O Facebook tornou-se um lugar hostil. Outras plataformas apareceram como prováveis alternativas, mas nenhuma delas conseguiu destronar a rede social de Mark Zuckerberg — mesmo com todos os problemas abordados de forma recorrente pelo noticiário do mundo inteiro. A mais nova (ou renovada) iniciativa de diluir a influência do Facebook nas nossas vidas é de Jimmy Wales, um dos fundadores da Wikipédia, que nos últimos anos tem-se dedicado ao WikiTribune, plataforma sem fins lucrativos cujo foco principal é o jornalismo e a informação.
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Lançado originalmente em 2017, o WikiTribune passou por mudanças que o transformaram na WT.Social. Ainda fechada para o público geral e absorvendo novos usuários, respeitando uma fila de milhares de inscritos, a plataforma já soma 300 mil membros. A interface evoluiu e passou de uma plataforma com aspecto de fórum para uma interface semelhante a de uma rede social. Você vai ver o meu perfil, lembra bastante o Facebook visualmente. Entretanto, a semelhança acaba aí, na aparência.
Eis aqui a mensagem de boas vindas, em tradução livre:
"Bem-vindo ao WT Social
À medida que as redes sociais cresceram, elas também amplificaram vozes de maus atores em todo o mundo. As notícias falsas influenciaram os eventos globais e os algoritmos se preocupam apenas com o "engajamento", mantendo as pessoas viciadas em plataformas sem substância.
O WikiTribune quer ser diferente.
Nós nunca venderemos seus dados. Nossa plataforma sobrevive da generosidade de doadores individuais para garantir que a sua privacidade seja protegida e seu espaço social seja livre de anúncios.
Vamos encorajá-lo a fazer suas próprias escolhas sobre o conteúdo que é veiculado e editar diretamente as manchetes enganosas ou sinalizar as postagens problemáticas.
Promoveremos um ambiente em que os maus atores são removidos porque isso é certo, não porque isso repentinamente afeta nossos resultados.
Mas isso só funcionará com a sua ajuda. Então entre hoje e ajude a mudar o cenário das mídias sociais".
O que isso quer dizer?
Isso quer dizer que, para ser diferente do Facebook, a plataforma vai funcionar de maneira diferente também. A rede social de Zuckerberg, hoje, se comporta da seguinte maneira: pode ser uma empresa que precisa responder aos seus acionistas com metas de crescimento, receita e gestão, o Facebook — e outras redes sociais também, não se engane — "fazem dinheiro" baseadas no tempo que você permanece no site olhando e clicando em publicidade. Entre os conteúdos que mais geram engajamento estão aqueles que despertam mais reações. Problemáticos, mas financeiramente atraentes.
Em um artigo publicado no WikiTribune, Wales anuncia que o site está mudando e se tornando uma rede social. O fórum foi migrado para uma plataforma de software totalmente nova, construída do zero, abandonando o WordPress em favor disso.
"Incorpora tudo o que aprendi nos últimos anos sobre o que funciona e o que não funciona para uma plataforma aberta e colaborativa de notícias, assim como tudo o que aprendi sobre o panorama de notícias em constante mudança e o que está mal em relação a ele", escreveu.
Um problema no modelo de negócios
Na visão de Wales, rede sociais têm um problema grave em seu modelo de negócios baseado em publicidade, o que leva as interações serem mais importantes que a qualidade dos conteúdos que as geram. De olho no sucesso dos números, gestores deixam que o espaço seja ocupado em grande parte por clickbait e desinformação.
"O novo Wikitribune é uma idéia completamente única e um pouco louca: uma nova plataforma de rede social editável e colaborativa. Como antes, não teremos publicidade nem paywall (há uma pequena lista de espera para ingressar no novo site, mas você pode pular a lista de espera se convidar pessoas ou se tornar um patrocinador)", conta.
Em vez de otimizar o algoritmo para viciá-lo e mantê-lo clicando, Wales explica que a WT.Social só vai "fazer dinheiro" se o usuário optar por doá-lo. "O que significa que nosso objetivo não é obter cliques, mas fazer algo significativo para sua vida", justifica.
A WikiTribune promete, com a ajuda de seus voluntários, manter o ambiente no WT.Social livre de atores mal intencionados e não exitará em retirar conteúdo — ainda que popular e atrativo — do ar, se este violar as diretrizes e mostrar-se desqualificado.
Como funciona o WT.Social
Na prática, os membros das rede social podem não só se comunicar e se reunir em grupos, como também editar e sugerir edições de títulos de artigos problemáticos e identificar posts com notícias falsas, exageradas e clickbait (iniciativas para a desinformação). Mistura a natureza colaborativa da Wikipédia com as mídias sociais.
Criar uma conta no WT.Social é de graça, mas há uma lista de espera — cada vez maior — para começar a usar a plataforma. A única maneira de passar à frente na lista é fazendo uma doação mensal (de R$ 25) ou anual (R$ 249) ao WikiTribune e o WT.Social.
Depois de incluir alguns dados pessoais como nome, e-mail e data de nascimento, fiz upload de uma foto de perfil e uma de capa (topo). E aí, sim, apareceram grupos que passei a acompanhar as discussões. A propósito, não paguei. Esperei cerca de dois dias.
Os usuários vêem os artigos que compartilham com os seus contatos em um formato de "linha do tempo" cronológica e parecida com a do Facebook, mas não há um algoritmo decidindo o que você vai ver com base nos seus interesses ou de terceiros.
No feed, estão posts publicados por membros de grupos dos quais optou fazer parte ou de pessoas que segue. Por padrão, todos seguem Jimmy Wales, cuja foto é um doce.
Como entrar no WT.Social
Para fins práticos, você pode entrar em:
Ou adicionar o meu perfil também: wt.social/gi/melissa-cruz-cossetti.
A escolha da URL é aleatória, mas baseada no seu nome. Caso alguém tenha um nome parecido com o seu, o endereço ganha um numeral ou caractere para diferenciá-lo.
WT.Social não é Wikipédia
Vale pontuar que a WT.Social é uma entidade independente da Wikipédia, ainda que compartilhe do nome do seu fundador. A conexão entre ambas dá ao ex-WikiTribune um ingrediente fundamental para fazer frente ao Facebook: ser bastante popular.
É difícil abandonar o Facebook porque todos os nossos amigos estão lá. Ainda que você não publique nada ou não role o feed com frequência, se precisar se comunicar com alguém, a chance dessa pessoa ter um perfil na rede social é enorme. Para mim, é basicamente uma agenda de contatos. Há anos perdi o interesse em frequentá-lo.
Contudo, a WT.Social vem fazendo o que muitos rivais do Facebook ainda não conseguiram: "cair na boca do povo". É certo que a rede social de Wales terá que aumentar seus usuários rapidamente se para provar uma alternativa viável, assim como ter servidores o suficiente para aguentar a horda de pessoas ávidas por uma opção.
Com alertas que dizem "tivemos um crescimento avassalador e somos uma equipe pequena. Precisamos da sua ajuda, clique aqui para saber mais", o WT.Social procura voluntários e diz também que está contratando. Esses reforços devem ajudar a traduzir a plataforma, adicionar recursos e corrigir bugs (que são vários, não espere poucos).
Os 3 elementos chave da WT.Social
- Um novo lugar para se informar
Usar a WT.Social é colocar o conteúdo na frente e no centro. As pessoas não devem usá-lo como usam o Facebook, mas o farão porque este será um feed de notícias que apresenta uma visão mais objetiva da história (sem apelações visuais ou clickbait). Isso deve aumentar gradualmente a sua popularidade e torná-lo uma fonte poderosa de notícias e um lugar mais sadio para discussões francas, sem que curtidas ou reações estejam envolvidas.
- Sem anúncios/publicidade
O WT.Social é uma plataforma ad-free, sem anúncios. Longe também de todo os efeitos que possa causar, sejam eles positivos ou negativos. Mas as pessoas geralmente não pagam para usar redes sociais. Assim como os veículos de comunicação tem sofrido para tentar convencê-las a pagar pos notícias. Contudo, essas mesmas pessoas já se acostumaram a pagar por conteúdo, como é a Netflix. Há muita estrada pela frente.
- Conteúdo e moderação
Essa combinação pode dar muito certo ou muito errado. A principal abordagem da WT.Social é criar uma comunidade de moderadores que colabore na revisão do conteúdo. Se bem feito, pode ser melhor do que o que temos hoje, ainda que o Facebook tenha adotado checagem de notícias em parceria com uma série de instituições respeitadas no mundo todo.
Como temos visto, moderar conteúdo para uma comunidade requer experiência e habilidade específicas. Quanto maior e mais popular a WT.Social for, igualmente será a complexibilidade de realizar curadoria de forma massiva. Hoje, a Wikipédia em inglês tem cerca de 130 mil editores ativos e 21 bilhões de visualizações de página por mês.
Redes sociais tendem a ser maiores do que isso. O Facebook tem cerca de 2,5 bilhões de usuários ativos por mês, mais de 130 milhões das ativas mensalmente só no Brasil.
E aí, será que vai funcionar?
WT.Social: a iniciativa de Jimmy Wales, um dos fundadores da Wikipédia, alternativa ao Facebook
WT.Social: a iniciativa de Jimmy Wales, um dos fundadores da Wikipédia, alternativa ao Facebookpublicado primeiro em https://tecnoblog.net
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