terça-feira, 1 de outubro de 2019

Em áudios vazados, Mark Zuckerberg mostra preocupação com governo

Em seus depoimentos no Congresso americano e no Parlamento Europeu em 2018, Mark Zuckeberg foi bastante enigmático e não respondeu a todas as perguntas. Agora, áudios vazados mostram uma versão mais transparente do executivo, em reunião com seus funcionários.

Mark Zuckerberg

O material gravado em duas reuniões que ocorreram em julho foi obtido pelo The Verge, que publicou seu conteúdo nesta terça-feira (1º). Nos áudios, que têm cerca de duas horas, Zuckerberg responde às perguntas de funcionários sobre concorrentes, críticos e tentativas de dividir a empresa.

A reunião ocorreu no mês em que o Facebook aceitou a multa de US$ 5 bilhões da Comissão Federal do Comércio (FTC, na sigla em inglês) e em que começou a enfrentar resistência ao Libra. A empresa lidou ainda tempo, a empresa lidava com críticas de seu próprio cofundador.

Warren e a divisão do Facebook

A senadora democrata Elizabeth Warren, pré-candidata às eleições presidenciais americanas em 2020, apresentou no início do ano a proposta de dividir empresas como Amazon, Apple, Facebook e Google. Questionado sobre o plano, Zuckerberg afirmou estar preocupado com a tentativa. Ainda assim, se mostrou confiante com o estado de direito americano.

“Se ela for eleita presidente, eu apostaria que teremos um desafio legal e eu apostaria que venceremos o desafio legal”, disse. “E isso ainda é péssimo para nós? Sim. Quero dizer, não quero ter um grande processo contra nosso próprio governo”.

“Desmembrar essas empresas, seja Facebook, Google ou Amazon, não vai resolver os problemas. E, você sabe, isso não torna a interferência eleitoral menos provável”, continuou. “Isso a torna mais provável porque agora, as empresas não podem coordenar e trabalhar juntas”.

Durante a resposta, sobrou até para o Twitter. “É por isso que o Twitter não pode fazer um trabalho tão bom quanto nós. Eles enfrentam, qualitativamente, os mesmos tipos de problemas. Mas eles não podem investir. Nosso investimento em segurança é maior que a receita total da empresa deles”, afirmou Zuckerberg, arrancando risadas dos funcionários.

“E, sim, estamos operando em uma escala maior, mas não é como se eles enfrentassem questões qualitativamente diferentes. Eles têm todos os mesmos tipos de problemas que nós”.

O fundador do Facebook afirmou não acreditar que soluções antitruste resolverão problemas do setor de tecnologia. “Se não ajudarmos a resolver esses problemas e a estabelecer uma estrutura reguladora em que as pessoas sintam que há uma responsabilidade real e o governo puder governar nosso setor, então, sim, as pessoas continuarão ficando mais irritadas”.

Depoimentos após caso Cambridge Analytica

Um dos funcionários perguntou sobre a conduta de Zuckerberg à frente do Facebook e o motivo para ter se recusado a comparecer a algumas audiências em meio ao escândalo Cambridge Analytica. Segundo o executivo, isso realmente não acontecerá.

“Não vou a todas as audiências em todo o mundo”, resumiu. “Quando surgiram os problemas no ano passado em torno da Cambridge Analytica, fiz audiências nos Estados Unidos. Eu fiz audiências na União Europeia”.

Mark Zuckerberg

“Simplesmente não faz sentido para mim ir a audiências em todos os países que querem que eu apareça e, francamente, não têm jurisdição para exigir isso”.

“As pessoas vão usar a posição da empresa e eu para nos criticar”, disse, tratando da posição de controle sobre a empresa. “Eu acho que isso é, até certo ponto, algo normal com o qual precisamos lidar e esperar que isso aconteça”.

“Certamente, levo muito a sério qual é minha conduta pessoal e como ela se reflete na empresa”, continuou. “Mas acho que, de maneira geral, a estrutura que temos serviu bem à empresa e à comunidade”.

Libra e a resistência de reguladores

Outro tópico da reunião foi o desenvolvimento da criptomoeda Libra. Na ocasião, Zuckerberg afirmou que pretendia tirá-la do papel até o final deste ano. Porém, o executivo se mostrava cauteloso e tratou da importância de uma “abordagem mais consultiva” para aquela fase do projeto.

“Entendemos que existem problemas reais. O setor financeiro é um espaço muito regulamentado. Há muitas questões importantes que precisam ser tratadas para impedir a lavagem de dinheiro, impedir o financiamento de terroristas e pessoas com as quais os diferentes governos dizem que você não pode negociar”, explicou.

“Existem muitos requisitos para saber quem são seus clientes. Já focamos muito na identidade real, especialmente no Facebook, então ainda há muito mais que precisamos fazer para ter esse tipo de produto”.

“Uma parte maior disso é o envolvimento privado com reguladores de todo o mundo e, esses, acho, geralmente são mais substantivos e menos dramáticos”, analisou. “E essas reuniões não são tocadas para a câmera, mas é a aí que muitas discussões e detalhes são tratados. Portanto, este será um longo caminho. Nós meio que esperávemos isso – que é assim que parece um grande engajamento”.

Crescimento da rede social chinesa TikTok

Enquanto domina as redes sociais no Ocidente, o Facebook presta atenção em novos concorrentes. Um deles é o TikTok, rede social de vídeos curtos que foi criada na China e já começa a crescer em outros países.

O TikTok, para Zuckerberg, é o primeiro produto construído na China a despontar em todo o mundo. “Está começando a se sair bem nos EUA, principalmente com os jovens. Está crescendo na Índia. Acho que já passou do Instagram agora na Índia em termos de escala. Então, sim, é um fenômeno muito interessante”.

TikTok / Musical.ly

“Eu meio que penso no TikTok como se fosse a aba Explorar para Stories e esse fosse o aplicativo inteiro”, opinou. “Temos um produto chamado Lasso, um aplicativo independente em que estamos trabalhando, tentando ajustar o mercado em países como o México”, disse.

“Estamos tentando fazê-lo funcionar em países onde o TikTok ainda não é grande antes de competirmos com o TiktTok em países em que ele é grande”. O executivo também pretendia fazer mudanças na aba Explorar do Instagram para que ela destacasse mais Stories.

Isso porque, segundo Zuckerberg, as publicações que duram 24 horas estão se tornando o principal meio de as pessoas se comunicarem na rede social. A estratégia para enfrentar o TikTok, portanto é se tornar mais parecido com o TikTok.

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