Direto de Guadalajara — A terceira maior cidade do México abriga uma das instalações mais importantes da Intel no mundo: o Guadalajara Design Center (GDC). Tem quem ache estranho que um país em desenvolvimento seja tão estratégico, mas é do prédio de 15 mil metros quadrados, com 1.750 funcionários, que são desenvolvidos e testados parte dos chips da Intel que só devem aparecer nos próximos anos.
Eu entrei no prédio da Intel em Guadalajara para descobrir o que há dentro dele e conto tudo (o que posso) nos próximos parágrafos.
O que tem ali dentro
Já tendo visitado prédios de empresas de tecnologia no Brasil e no mundo, deu para notar que a instalação da Intel no México foge à regra. Normalmente, funciona assim: os países em desenvolvimento, como o nosso, abrigam mais linhas de produção, com humanos encaixando peças e montando produtos que depois são enviados para outros mercados, enquanto os de primeiro mundo têm mais laboratórios de inovação, com engenheiros, cientistas e técnicos que criam a tecnologia no nível do átomo.
Não há nenhum demérito em manufatura, mas isso é algo que não existe no Guadalajara Design Center. Os visitantes, como os 5.000 estudantes de escolas primárias até universidades que passam anualmente por ali, já dão de cara com um hall da fama, digo, wafer da fama, que reúne as patentes registradas pela Intel, além de um museu com as invenções da companhia.
Passando para a parte restrita do prédio, que não pode ser fotografada (todas as imagens são oficiais da Intel), é possível encontrar as próximas tecnologias nascendo em laboratórios com diferentes níveis de som, temperatura e umidade. O diretor geral Jesús Palomino explica que 80% dos processadores para servidores e 50% dos chips para consumidores finais lançados nos últimos 10 anos foram projetados em Guadalajara. Os Core de 10ª geração (Ice Lake) também passaram por ali.
O processo de desenvolvimento de um chip envolve pesquisas de mercado, desenvolvimento da microarquitetura, fabricação de protótipos e, claro, os testes. Ninguém conta exatamente quais produtos estavam sendo testados em quais bancadas, mas no laboratório mais barulhento, repleto de ventoinhas resfriando processadores trabalhando na capacidade máxima, você pode imaginar que novas categorias de produtos da Intel já estavam ali — como GPUs dedicadas.
Apesar de empregar um número significativo de pessoas, não encontrei tantos humanos nos laboratórios do GDC: era comum ver bancadas com espaço para 10 ou 20 funcionários sentados, mas sendo ocupados por apenas dois ou três. As máquinas e os produtos são tão grandes, numerosos e solitários que parecia que estávamos no horário do almoço ou em algum feriado nacional. Mas era uma manhã comum de quarta-feira.
Isso ocorre porque boa parte dos testes é automatizada e leva um bom tempo para ser completada — alguns meses, um ano ou até mais, dependendo do produto. Chips para servidores são submetidos a uma carga intensa e podem causar prejuízos milionários se algo der errado, por isso, os testes elétricos e térmicos são mais extensos. Mas é nesse mesmo local que os futuros Intel Core são projetados e reprojetados para terem o melhor desempenho e eficiência antes de serem fabricados em massa.
Muitos testes e a sala onde não se ouve nada
Embora seja mais conhecida pelos processadores, a Intel produz todo tipo de tecnologia, afinal, é uma empresa “centrada em dados”, como seus executivos gostam de repetir à exaustão em toda e qualquer apresentação à imprensa. Uma das salas mais diferentes do GDC permite treinar, desenvolver e testar com precisão a Alexa, a Cortana e outras assistentes de voz presentes em computadores e alto-falantes inteligentes.
A sala é, na verdade, uma câmara anecoica onde o silêncio reina absoluto. Ela é totalmente isolada do ruído externo e possui paredes e teto revestidos de espumas com formato piramidal que eliminam o eco. Como as pessoas estão acostumadas com o barulho das cidades, algumas podem estranhar o silêncio da câmara e até apresentar náuseas, segundo o gerente técnico Martin Ibarra. Não fiquei por tempo suficiente para ter qualquer efeito colateral, mas o contraste com o ruído do laboratório é notável.
Para Ibarra, o futuro dos assistentes pessoais está na integração entre imagem e som. Os alto-falantes inteligentes do futuro poderiam utilizar tanto os microfones quanto uma câmera para entender a linguagem corporal e as emoções humanas, passando a oferecer respostas mais precisas. Só que isso deve demorar “uma década ou mais” para se tornar realidade, segundo ele.
Inclusive, há muitas câmeras espalhadas pelo local, especialmente para testar o OpenVino, uma plataforma de visão computacional de código aberto desenvolvida pela Intel e que pode funcionar de maneira eficiente só com a CPU, mas também em conjunto com aceleradores, como GPUs e sticks de computação neural do tamanho de um pen drive. O “curso” de reconhecimento de objetos leva entre três semanas e um mês para ser completado pela inteligência artificial.
A empresa trabalha com visão computacional (dados! dados!) para uma infinidade de aplicações, como reconhecimento de placas de carro, monitoramento de compradores em lojas físicas, engajamento em sala de aula ou detecção de pessoas por meio de drones. Em uma das demonstrações, uma teia de drones se afastava rapidamente enquanto uma pessoa passava por entre as máquinas voadoras, evitando acidentes. Sei de gente aqui no Tecnoblog que pouparia uma ida ao hospital com essa tecnologia.
Um papo sobre Projeto Athena
Antes de ir embora do Guadalajara Design Center, batemos um papo com a diretora de consumo e varejo da Intel Brasil (e também diretora geral interina) Gisselle Ruiz y Lanza sobre o Projeto Athena, que evoluiu bastante em relação ao que vi em janeiro de 2019, durante a CES Las Vegas. Alguns produtos comerciais já foram anunciados nesse meio tempo por fabricantes como Dell, HP e Lenovo.
O Athena lembra a ideia dos ultrabooks, que também faziam parte de um projeto da Intel para incentivar as marcas a lançarem novos formatos de laptops. O resultado é visto hoje: temos notebooks mais leves, finos e com baterias muito melhores que há oito anos, quando três horas de autonomia era considerado algo até “aceitável”.
No caso do Athena, as marcas precisam cumprir alguns requisitos: os notebooks precisam oferecer duração de bateria sem preocupações (o suficiente para você sair para trabalhar e deixar o carregador em casa), bom desempenho (sem lentidão para executar tarefas; morra, disco rígido), otimizações para inteligência artificial e novas opções de conectividade (Thunderbolt 3, Wi-Fi 6 e, opcionalmente, 4G).
Os primeiros integrantes do Athena não são baratos, como o Dell XPS 13 2 em 1, que parte de US$ 1.249 nos Estados Unidos (na configuração com Core i5!) e no caríssimo HP EliteBook x360 1040, este voltado para profissionais — neste caso, profissionais que tenham cacife para gastar pelo menos US$ 1.973 em um notebook no mercado americano, ou talvez algumas dezenas de milhares de reais no Brasil.
Mas Lanza diz que, assim como ocorreu com os ultrabooks, as fabricantes devem seguir a tendência de “trazer para uma linha de entrada recursos que não existiam há cinco anos”. Atualmente é possível encontrar notebooks com menos de 2 kg que não custem os olhos da cara, por exemplo. Segundo a executiva, parceiros locais (a Positivo foi nominalmente citada) têm forte importância na tarefa de democratizar as inovações para o segmento de massa.
Só não sabemos exatamente quando os notebooks do Projeto Athena darão as caras no Brasil. Mas temos três pontos para pensar: 1) o lançamento deverá contar com parceiros nacionais; 2) você não verá nenhum selinho colado nos computadores dizendo “Athena” (mas deve encontrar a indicação acima nas prateleiras das lojas); e 3) eu quero ver como a concorrência (que também não chegou ao país ainda) vai reagir.
Paulo Higa viajou para Guadalajara, México, a convite da Intel.
Onde nascem os processadores da Intel
Onde nascem os processadores da Intelpublicado primeiro em https://tecnoblog.net
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