terça-feira, 2 de junho de 2020

Polícia dos EUA diz usar rastreamento de contato contra manifestantes

O rastreamento de contato (contact tracing) tem sido uma ferramenta importante para analisar e impedir o avanço do coronavírus (COVID-19) em diversos países. Mas, recentemente, a polícia de Minnesota, nos Estados Unidos, admitiu usar o mesmo recurso para investigações relacionadas aos recentes protestos na região.

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Na primeira olhada, o uso do rastreamento de contato por autoridades policiais pode parecer uma notícia positiva, afinal, sinaliza que ferramentas do tipo estão sendo aplicadas em investigações criminais. Mas, no contexto atual, a prática pode ser vista como um mecanismo para sufocar manifestações públicas.

Algumas autoridades de saúde já estão preocupadas com isso. Sim, de saúde. A explicação está no modo como o rastreamento de contato funciona.

Originalmente, o rastreamento de contato consiste em formas de identificar pessoas que tiveram contato com indivíduos infectados por um agente — no cenário atual, o novo coronavírus. Para tanto, é essencial que pessoas sejam entrevistadas e concordem em fornecer informações sobre viagens recentes, redes de contatos e assim por diante.

Para esse tipo de ação funcionar, os entrevistados precisam confiar nesse tipo de ferramenta. Mas é justamente a desconfiança que aparece como um obstáculo para o rastreamento de contato.

Esse obstáculo tem sido superado aos poucos, mas, com a notícia de que a polícia tem recorrido ao rastreamento de contato para fins não relacionados à pandemia, especialistas da área da saúde temem por um retrocesso.

“Qualquer coisa que interfira no sistema de saúde pública com o qual tentamos promover a confiança é prejudicial, principalmente quando você olha como a COVID-19 está impactando comunidades negras”, diz David Harvey, diretor de uma coalização de rastreadores de contato nos Estados Unidos.

No último domingo, o comissário de segurança pública de Minnesota, John Harrington, disse que a polícia da região tem usado o rastreamento de contato com manifestantes que foram detidos recentemente. “Com o que eles estão associados? Quais plataformas eles defendem? Isso é crime organizado? Estamos no processo de construir essa rede de informações”, completou.

Protesto pela morte de George Floyd (foto: Forbes)

Protesto pela morte de George Floyd (foto: Forbes)

Após ser questionada sobre o assunto, a Comissão de Segurança Pública de Minnesota tentou dissipar as preocupações. O diretor de comunicações do órgão, Bruce Gordon, disse que o departamento não está trabalhando com nenhuma nova tecnologia para rastrear manifestantes.

“Ele [John Harrington] falou sobre um trabalho típico de investigação criminal, não sobre uma nova tecnologia ou estratégia. (…) Ele pegou emprestado um termo [rastreamento de contato] do mundo da COVID-19”, completou Gordon.

A onda de protestos que se espalha pelos Estados Unidos e já atinge outros países teve início em 25 de maio. Tudo começou com a divulgação de um vídeo que mostra um policial branco de Minneapolis, Minnesota, mantendo o joelho sobre o pescoço de George Floyd enquanto este estava algemado e deitado no chão.

O homem, um afro-americano de 46 anos, foi levado ao hospital após a agressão policial, mas acabou falecendo. Uma série de manifestações tem surgido desde então, não só para pedir justiça, mas também como um movimento de mobilização contra o racismo.

Com informações: CNET.

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