quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Vivo é processada para deixar de usar local dos clientes em anúncios direcionados

A Vivo está sendo processada pelo MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) para que deixe de vender anúncios de mídia geolocalizada através da plataforma Vivo Ads. Esse produto é descrito como um “escândalo” por um representante da Cambridge Analytica, empresa envolvida na crise de privacidade do Facebook. Ele também pode ter ajudado em fraudes durante as eleições de 2018.

Vivo Ads

O MPDFT, por meio da Espec (Unidade Especial de Proteção de Dados Pessoais e Inteligência Artificial), abriu na terça-feira (30) uma ação civil pública contra a Telefônica Brasil, na qual pede à Justiça a suspensão do produto Mídia Geolocalizada do Vivo Ads.

No ano passado, durante um inquérito sobre o vazamento de dados da Cambridge Analytica, o MPDFT descobriu e-mails que mencionavam a plataforma Vivo Ads “como meio capaz de ajudar no esquema de fraude durante as eleições brasileiras de 2018, especialmente quanto ao serviço de geolocalização de seus clientes”.

Além disso, o órgão juntou aos autos o depoimento em vídeo de um representante da Cambridge Analytica, que conheceu de perto esse produto da Vivo e o considerou um “escândalo”. O nome dele está sob sigilo.

Vivo Ads monitora local de 26 milhões de clientes

O Vivo Ads se descreve como “a maior plataforma de mídia digital do Brasil” em seu site oficial. A plataforma oferece anúncios em vídeo, mídia programática, recomendações de apps e propagandas via geolocalização.

Isso significa que, se você for cliente da Vivo, talvez receba um SMS ao passar por locais escolhidos pelo anunciante. A empresa define uma “cerca virtual” (geofencing) para disparar a mensagem, seja quando o usuário entra no local, sai dele, ou permanece lá por certo período de tempo.

Vivo Ads

“Esta tecnologia permite engajar o usuário de acordo com a sua posição em tempo real na rede da Vivo”, explica o site oficial. “Todas as informações são anonimizadas, clusterizadas e obtidas com autorização do usuário.” Os clientes podem receber SMS apenas com texto ou em conjunto com imagem, áudio ou vídeo.

O Ministério Público argumenta que a Vivo acaba ganhando de duas formas, tratando as pessoas como clientes e também como produto: afinal, elas pagam uma fatura mensal ou compram créditos no pré-pago, e podem receber anúncios direcionados dependendo de onde estiverem.

Vivo não pede consentimento de forma clara, diz MPDFT

A Vivo diz que utiliza os dados somente “após consentimento livre, expresso, incondicionado e informado de seus titulares”. Isso inclui as informações de cadastro — nome, endereço, idade, gênero, profissão — de 43 milhões de clientes; e a geolocalização de 26 milhões de pessoas.

No contrato de adesão do pós-pago, o cliente pode marcar a opção que diz: “quer receber da Vivo e parceiros ofertas e benefícios adequados ao se perfil em seu celular? Para isso precisamos utilizar seus dados pessoais e de localização e uso da rede, que ficarão seguros em nosso banco de dados”. No pré-pago, isso é perguntado durante a ativação do chip.

No entanto, para o MPDFT, isso não é claro o bastante: “consentir que seus dados sejam utilizados para fins publicitários não é o mesmo que consentir que seus dados sejam utilizados como produto para fins comerciais, e nem que sua localização seja monitorada 24 horas por dia”.

O órgão afirma que a geolocalização do Vivo Ads causa “danos a direitos à intimidade e à privacidade dos titulares dos dados pessoais”. Por isso, o processo judicial pede que o produto Mídia Geolocalizada seja suspenso.

Em nota ao Tecnoblog, a Vivo diz que “ainda não foi citada na ação e reitera que cumpre a legislação vigente”.

Com informações: MPDFT.

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